sábado, 21 de março de 2009

Derradeiro Fim

Uma guerra havia se iniciado. À medida que as tropas avançavam, corpos se espalhavam e novas vítimas eram acrescidas à lista de extermínio. A matança alcançava os senhores da guerra, enfraquecendo as alianças perante ameaças fundadas em chantagens familiares.
– Covardes!!! – Vociferam ao redor deles – Estamos em meio a uma guerra e vocês ousam nos abandonar?
– Seu mísero clã não conseguirá sobreviver sem a nossa ajuda. Iremos caçá-los e pendurá-los como nacos de carnes humanas para saciarem a fome dos nossos.
Punhos se fechavam com aqueles dizeres, mas o cansaço das intrigas e disputas pelo poder sobrepujava os ânimos exaltados de seus corações.
– Não negamos nossa essência, muito menos nosso Pai. Não deixamos de lado a fome que nos consome, nem mesmo a besta existente dentro de nós. Apenas não concordamos com a guerra que atinge nossos iguais. – A palavra era tomada em defesa dos que estavam para desertar.
– Suas mentes se perderam, quando os humanos ficaram escassos. Dizimam seus irmãos temendo que sejam os próximos. Deixaram de serem senhores para se tornarem escravos da guerra que disseminaram. Há muito não pertencemos a este lar. – A palavra final era dada junto à retirada do defensor e seus aliados.
A saída deles não era aceita e seus iguais cuspiam sangue aos pés do grupo exilado em completo desprezo. Tratavam-nos como, “Seguidores de cães”, “Traidores”, “Amantes de homens”, e suas palavras ganhavam força ao pronunciar de uma única maldição.
– Eles nos caçarão como um dia caçamos aqueles que tínhamos como inimigos. Tanto unidos quanto separados, sucumbiremos às mãos de nossos antigos irmãos se não invertermos o processo.
– Trevor... – preocupou-se um deles com aquela profecia.
– Separem-se e permaneçam vivos. – Trevor finalizou o assunto, evitando que os temores vencessem seus aliados ao que se separavam.
Não havia mais tempo para falas onde cada um seguiu para lados diferentes, a caçada finalmente tinha seu início com as ordens soberanas.
– Cacem-nos e não os deixem fugir da guerra.
O som da corrida e dos comandos era certeiro, a cada encontro o cheiro do sangue aumentava. Corpos dilacerados ganhavam espaço ao ritmar dos corações e os olhares mostravam aqueles que venciam em cada ocasião.
– Não fugirão da guerra! – Alguém pronunciava às vezes débil, às vezes fervoroso demais. Mas os atos agiam mais que as falas e o avanço não diminuíam a determinação de ambos os lados.
Olhares que ganhavam o asco, olhares que ganhavam a fúria. Garras que se manchavam de sangue e clamores silenciados às gargantas. Os corpos ficavam cansados demais.
Arfares, pesares e a noite avançava rápida demais. Os dias se prolongavam, os meses passavam, os séculos chegavam.
O terror daquela guerra cravava aos corpos deixando suas marcas. Não havia mais risos, sequer comemorações, quando em passos pesados retornavam a casa.
Chamas se espalhavam pelos cantos, consumindo os corpos carbonizados e em frangalhos, revirando o estômago daqueles que avançavam.
– O que aconteceu aqui? – Murmurou aquela que um dia se preocupou com uma profecia e aos poucos fora reconhecendo seus irmãos.
Não apenas os irmãos que renegara, mas pouco a pouco encontrava os irmãos exilados. Aliados em tentar reverter o processo de uma guerra insana que se arrastou por séculos à sua carcaça e as de outrem, enquanto seus sentidos foram despertados por rosnares.
Coração fervilhando e cega à razão, seus passos avançaram, deparando-se com seus poucos aliados cercados. Não havia tempo para sorrir, a não ser agir. Saltava dentro do cerco fechado por antigos inimigos de sua espécie.
– Afastem-se, ou não temerei em enfrentá-los juntos aos meus irmãos. – Proferiu a jovem raivosa e percebera aos olhos daqueles que enfrentaria que eles não a observavam.
O calafrio percorria ao corpo, ao que seus instintos lhe pediam para olhar o que não vira e seus olhos lamentaram ao ver ao chão sem vida aquele que os liderara.
Frio e com o coração arrancado, tinha seu corpo estraçalhado e as lembranças de sonhos morriam em suas crenças ao que a guerra alcançara não apenas ela, mas aqueles que chamara de aliados.
Garras cravadas às costas, presas ao corpo, ela avançava mais uma vez cega contra aqueles que amara. Não havia paz, não podia fugir da guerra. A profecia se realizava não às mãos dos irmãos que os viram como renegados, mas às mãos dos que se afastaram.
Um a um eles caíram. Senhores da guerra, senhores da paz. Com o corpo ferido e quase não agüentando mais, ela chorou, suspirou e observou os olhares que ali presenciaram mais do que deviam presenciar.
– Basta! – Pranteou perante eles, sentindo o próprio golpe cravando ao peito. O corpo caía inerte aos poucos, ausente de seu coração, dando um basta a toda guerra e ao fim de toda uma era.

2 comentários:

Anne Caroline Quiangala disse...

Soa uma música épica ao fundo e tenho a visão panorâmica d'O Derradeiro Fim.Gostei, principalmente, da violência empregada, da secura da intriga e do drama.As professias...sempre elas. Enfim, um texto incrível de terror fantástico, querida Tyr.

Anne Caroline Quiangala disse...

Nossa, Profecias.
Dessa vez, eu me mato.UASHUSHUASHUSAUASH

Brumas Negras

Um mundo que gera tanto fascínio quanto temor.