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domingo, 26 de setembro de 2010

Entrevista #2: Vivianne Fair

Por Tyr Quentalë

Muitos dizem que Brasília deveria ser a capital da cultura e da música, mas podemos ver que vários artistas de outros estados parecem ter mais destaque no meio cultural do que os brasilienses. Portanto, tendo em mente tal idéia, aceitei a proposta de entrevistar a autora e quadrinista Vivianne Fair que deu o ar da graça no debate ocorrido na Livraria Cultura da Casa Park sobre Mulheres nos Quadrinhos.

B.N.: Pude observar em seu debate que desde nova você sempre se dedicou às artes e à busca de melhorar as áreas que já domina, mas também percebo muitos jovens habilidosos deixando seus sonhos de lado por falta de incentivo. Qual conselho você poderia dar a esses jovens?

Vivianne Fair: Não desistam desses sonhos; tenham sempre em mente seus objetivos e planos. Incentivo raramente vem ou não vem; estude e melhore suas técnicas, mas não fique parado esperando a grama crescer. Busque contatos, divulgação, e não se fixe só nisso, afinal, você tem que ter vários recursos. Pode ter que investir também. Se é o que quer, lute por isso, ninguém vai realizar seu sonho por você.

B.N.: Em se tratando da área de quadrinhos é comum observarmos que se trata de um mundo dominado pelos homens e que ainda é visto como leitura para crianças. Quais são as maiores dificuldades que as mulheres encontram ao apresentarem seus projetos às Editoras?

Viviane Fair: Muitas editoras acham que a mulher não dará conta do que elas têm em mente. Graças a deus nunca encontrei ou não percebi a discriminação; procuro apenas editoras que tem a ver com meu trabalho, mas tem algumas que nunca me responderam. Não sei se isso se deve ao fato de eu ser mulher, mas acredito que não. Infelizmente a HQ é sim, vista como uma leitura para crianças e na maioria das vezes não é o caso.

B.N.: Ainda se tratando de quadrinhos, como o público tem reagido ao perceber que as mulheres também estão ganhando destaque como roteiristas de HQs?

Viviane Fair: Normalmente a reação é arregalarem os olhos e dizer: “VOCÊ? Quadrinhos? Que legal!” E acabam se interessando pela curiosidade, mas normalmente a reação é bem incentivadora.

B.N.: Já na área literária, muitos escritores têm encontrado editoras que estão se abrindo para novos talentos. Em alguns casos o batismo se dá por contos em antologias, e em outros já podemos vislumbrar os livros solos de alguns escritores. Com dois livros no mercado, você diria que esta área está realmente mais aberta ou ainda possui muitas dificuldades a serem superadas?

Viviane Fair: Dificuldades não deixarão de existir, mas sinto que o mercado tem estado mais aberto. Apesar da constante luta de espaço dos autores nacionais em relação aos estrangeiros, se não fossem estes últimos, os nossos jovens talvez não estivessem tão abertos à leitura como estão agora. As editoras agora estão notando o potencial brasileiro, graças aos pedidos desses mesmos jovens. É muito gratificante!

B.N.: A grande problemática de Brasília deve-se ao fato de que a cultura não é tão divulgada quanto os problemas políticos. É necessário ir a locais específicos ou fazer parte de grupos para saber o que anda acontecendo na cidade. Eventos como o debate na Livraria Cultura, noites culturais no T-Bone, mostras de filmes no Cine Brasília e até mesmo espetáculos teatrais e musicais, acabam tendo seu publico reduzido pelo fato da pouca divulgação. Desabafe uma forma de revertermos esse quadro e tornarmos a cultura mais conhecida a todos os tipos de público.

Vivianne Fair: É realmente revoltante. Um povo sem uma cultura ou uma educação de qualidade é um povo dominado. Nosso sistema de educação tem permanecido imutável ao longo dos anos, minha mãe leu os livros que li; assim como meu filho tem sido obrigado a ler os mesmos livros. Não há a menor dúvida que os clássicos são interessantes, mas é realmente necessário ficar só nisso? Fantasia, aventura, atualidades, tudo isso é deixado de fora; os autores que estudamos são os mesmos, os livros invariáveis; sendo que muitos desses autores já se foram. Tudo bem que faz parte da nossa cultura, mas os novos que estão surgindo não fazem parte da cultura da mesma forma? Não é hora de abrirmos um espaço para todos? Os jovens não deveriam ter a opção de dizer o que quer ler ou pelo que se interessa? Já tive que aturar jovens dizendo que ‘livro nacional é ruim’. De quem seria a culpa? Do nosso sistema de educação arcaico e acomodado ou dos jovens que não reivindicam seus direitos? Acho que seria necessária uma divulgação gratuita por parte da imprensa. Comerciais, divulgação, grupos de estudo de livros, de repente até uma matéria voltada para isso nas escolas. Se houvesse tanta divulgação como existe de novelas e coisas voltadas ao consumismo desenfreado ou problemas na política, acredito que o povo teria uma educação melhorada, por buscar ele mesmo sua própria opinião.

Para conhecer um pouco mais sobre a autora dos livros A Caçadora e Cavaleiros do RPG, acesse o site Recanto da Chefa

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Entrevista #1: Scatha

Foto: divulgação ( da esquerda pra direita: Paula Leão; Cíntia Ventania; Angélica Burns; Cynthia Tsai Yuen e Júlia Pombo)


Por Anne Caroline Quiangala
Revisão: Tyr Quentalë


Scatha é uma banda feminina de Thrash Metal, formada no Rio de Janeiro. A banda surgiu em meados de 2005, quando as integrantes tinham por volta de quinze anos. Da formação original constam Júlia Pombo nas guitarras, Cíntia Ventania no baixo e Cynthia Tsai Yuen na bateria. Com a saída da vocalista original, Rebecca, a banda passa a ter Angélica Burns nos vocais e, imediatamente, lançam no fim de 2007 a primeira demo “Keep Thrashing” que já abriu caminho ao receber destaque na revista Roadie Crew, além da indicação para representar o Brasil no festival europeu ‘Wacken open Air’ (participando do Wacken Battle) .

[Brumas Negras] Olá, vocês poderiam dar uma breve apresentação da banda, história, experiência e estilo?

[Cíntia Ventania] O projeto se concretizou a partir do momento que eu conheci Julia Pombo por intermédio da internet. Ela tinha apenas 14 anos quando a conheci e eu aos meus 20, fiquei impressionada com o potencial de uma garotinha que mandava riffs e tinha uma pegada que nunca tinha visto antes... A partir daí o “sonho” de banda feminina de thrash metal deslanchou... Eu e Julia caímos de cabeça na banda, e depois de muitos testes com bateristas, vocalistas e algumas guitarristas, Paula Leão entrou na banda na segunda guitarra e Rebecca Schwab veio para os vocais. Começamos então tocar mais covers e cair dentro de composições. Eu já tinha uma pancada de letras e idéias, Julia estava sempre criando riffs e bases e, em agosto de 2005, já com a formação completa, fizemos nosso primeiro show no Garage. Apartir daí foram só ensaios, gravação, criação, shows por vários lugares do RJ e interior de SP.
E cada vez mais queríamos mais... Em janeiro de 2007 a vocalista Rebecca Schwab saiu da banda e Angélica Burns entrou dando mais fúria ao nosso som com seu vocal gutural agressivo. Em agosto desse mesmo ano gravamos nossa demo com cinco músicas autorais. Nossas maiores influências são as clássicas bandas de Thrash Metal, Megadeth, Pantera, Slayer, Testament, Exodus, Metallica, dentre muitas outras. Em julho de 2008 a guitarrista Paula Leão se desligou da banda por motivos pessoais.
Hoje em dia Scatha consta com Julia Pombo na guitarra, Cíntia Ventania no baixo, Cynthia Tsai Yuen na batera e Angélica Burns no vocal.

[Brumas Negras] A demo Keep Thrashing tem uma qualidade de gravação incrível, o que é interessante, já que muitas bandas do estilo, em seu primeiro trabalho, optam por uma gravação rude, como que utilizando dos recursos dos anos 80 com o intuito de preservar a cultura da época, assim como a vestimenta e toda a parafernália old school. Como vocês veem esse movimento oitentista hoje em dia?

[C.V] Bem, creio que isso seja uma opinião pessoal... Eu simplesmente gosto de gravações boas e audíveis... Queríamos fazer o melhor possível para mostrar nosso trabalho. Quanto ao movimento oitentista, eu apoio totalmente quem curte o Thrash e todo movimento metal que rolou na época... Mas os tempos são outros, inovar também é preciso, e qualidade sonora tem que rolar em primeiro lugar no trabalho de qualquer banda ou artista. – Temos que aproveitar que hoje em dia é muito mais fácil sem ter que gastar muito... Antigamente as demos tinham qualidade mais baixa pelo custo da gravação em estúdios profissionais. Quanto à vestimenta... bem, isso cada um sabe o que usa... Eu pessoalmente me amarro no cinto de balas! (rs)

[Brumas Negras] A Scatha traz muito da sonoridade da época, aquela pegada speed do Metallica em 83 mesclada às passagens crossover, apesar de não seguir a linha de letras com críticas diretas à sociedade. Existe uma tendência de a temática sair do universo interior (se é que podemos ver dessa maneira) para o exterior?

[C.V] Bem, basicamente tentamos expor a raiva e fúria tanto nos riffs quanto nas letras e linha de voz. As letras são totalmente focadas em críticas à sociedade, mas de forma não muito explícita... Mas quanto à temática, varia muito. Algumas letras são situações do cotidiano, outras são revoltas que se tem por algum mal que a sociedade trás às pessoas, ou problemas de terceiros que viram uma crítica.

[Brumas Negras] Como é pertencer a uma banda feminina que se destaca, sobretudo pela qualidade, nesse gênero? Qual é a reação do público e como vocês esperam serem vistas na cena carioca e mesmo brasileira?

[C.V] Existem pontos e pontos...
Os positivos são que ninguém espera uma banda como a nossa. Muitas pessoas vão aos eventos que tocamos só pra ver qual é... Se somos um bando de picaretas fazendo pose, ou se tocamos mesmo... Após os shows insandecidos com a presença de palco e agressividade do som, muita gente vem falar conosco... Várias bandas masculinas tentam fazer a nossa caveira por inveja ou algo do tipo, mas isso não atrapalha nosso trabalho, só ajuda a termos mais raiva! (rs)

[Brumas Negras] É interessante ressaltar o quanto vocês aliaram o peso à feminilidade, conceitos que comumente são vistos como incompatíveis de forma que soa bastante espontânea. Angélica traz um vocal mais voltado para o Death/Black têm uma brutalidade sem deixar de transparecer que são mesmo garotas. Como é isso?

[C.V] Cara... Não sei... Talvez porquê simplesmente somos mulheres e transparece isso. Não tentamos agir como homem, ou tocar como homem... Somos simplesmente mulheres e fazemos nosso melhor.

[Brumas Negras] Já faz algum tempo que a figura feminina em uma banda de ‘rock’ de uma vertente ‘não convencional’ como Thrash metal está correlacionada ao marketing visual, entretanto, desde meados dos anos 80 e 90, várias bandas vêm posicionando contra essa imagem. Vocês têm algum posicionamento a respeito disso?

[C.V] Não. Simplesmente somos 4 garotas que curtem tocar e amamos thrash metal. Claro que tem um apelo visual... Mas creio que não faça diferença no trabalho, e o que nos importa é o trabalho bem feito.

[Brumas Negras] Devido ao poder matador dos riffs de guitarra e baixo, da bateria seca e correta e ao vocal destruidor, vocês passam a ser uma referência positiva para as gurias do metal e até mesmo para a cena nacional. Vocês conseguem se ver nessas proporções? Já almejavam essa posição desde o início?

[C.V] Não tínhamos idéia que íamos ser influência, mas depois de um tempo vimos algumas bandas surgindo e vindo falar conosco... Eu simplesmente acho isso perfeito... Nada melhor do que ser boa influência para uma geração futura. Tirar um pouco desse estigma que mulher não sabe tocar ou não sabe fazer metal.

[Brumas Negras] Vivendo em um país cuja cultura popular é de músicas comerciais como axé e funk, o que levou ao heavy metal e a decidirem ter uma banda? Tiveram referências femininas ou foi totalmente assimilado a partir de influências masculinas?

[C.V] Pura e simplesmente por gostarmos de Heavy Metal, por isso decidimos ter a banda. Quanto a referencias, cada uma integrante tem uma, as minhas são quase todas masculinas, pois só vim conhecer mais bandas de Metal com mulheres na formação depois de comparações, mas nunca me espelhei em nenhuma mulher já famosa do metal.

[Brumas Negras] Existe algum outro campo da arte que influencia a banda?

[C.V] Não, só a música mesmo.

[Brumas Negras] Fale um pouco sobre o processo de composição e como as tendências individuais se mesclam.

[C.V] ... Isso seria um tanto complicado de explicar. Até agora quem faz as composições são Cíntia Ventania e Julia Pombo. Cíntia faz 99.9% das letras, Julia faz 85% dos riffs, baterias e afins. No final somente os gostos das 2 que se misturam nas composições.

[Brumas Negras] Como surgiu o convite para entrar na disputa do Wacken Battle?

[C.V] Na verdade na inscrição de 2008 mandamos nossa demo “Keep Thrashing!” mas não foi selecionada. Este ano nem chegamos a enviar o material, mas creio que eles devem ter feito uma pré-seleção das bandas que “sobraram” do ano passado e entramos!

[Brumas Negras] A demo “Keep Trashing” tem uma qualidade de gravação excelente, ainda assim vocês a disponibilizaram na internet gratuitamente. Um grande problema da indústria fonográfica é o ‘ vazamento’ de CD antes do lançamento, além da pirataria. Vocês pretendem disponibilizar, também faixas de álbuns, ou se trata de um marketing eficiente, por enquanto?

[C.V] Bem, nós temos nossa demo prensada que vendemos em nossos shows, e temos uma grande procura pelo material. Inicialmente colocamos algumas músicas disponíveis pro pessoal poder checar nosso som e se gostam, normalmente encomendam a demo conosco. Resolvemos disponibilizar a demo pra não vetar o acesso ao trabalho, o mais importante é divulgarmos o som pra galera nos conhecer, mas depois do album gravado ainda disponibilizaremos grande parte do novo material.

[Brumas Negras] Comentem as faixas da demo:

Faixa 1 - The Unknown Man

“Homem desconhecido” fala sobre uma pessoa que vive uma farsa com ela mesma, e até mesmo os mais íntimos não a conhecem muito bem, por ela viver num mundo paralelo e não mostrar quem é ao mundo.

Faixa 2 - No Mercy

A letra diz respeito à crítica sem piedade dos amigos de uma pessoa que, com toda sua inveja e planos interesseiros, acaba sendo excluída por eles.

Faixa 3 - Odd Being… Off Conception

A tradução mais próxima é: “Ser estranho…fora de concepção”.
É bem complexo explicar o ponto de vista dessa letra, mas se tratam de pessoas que são totalmente fora da realidade da sociedade, mas vivem por trás dos “panos” manipulando as pessoas comuns “the pairs”.
Então tudo se passa entre o mundo dos estranhos e comuns. Odd X Pairs.

Faixa 4 - Movido Pela Raiva

Ela é a mais explícita de todas, ao mostrar uma das “realidades” do brasileiro: ter que acordar todos os dias para trabalhar em um ambiente hostil e não ganhar o suficiente para se sustentar, o dia-a-dia de ter que se foder pra sobreviver, e que só continua na rotina movido pela raiva. Uma realidade batida por aqui.

Faixa 5 - Own War

“Guerra própria” também fala por si. Uma pessoa e seus conflitos internos.




Ouça a demo da Scatha na internet: www.myspace.com/scathaband
Contato: bandascatha@gmail.com

Brumas Negras

Um mundo que gera tanto fascínio quanto temor.