terça-feira, 20 de julho de 2010

EXPLORANDO O TERROR


Quando o assunto se trata de Terror, todos logo imaginam os monstros tradicionais. Dentre eles, temos os lobisomens, vampiros e claro, os degenerados zumbis.
Mas por que os tratos como degenerados?
Pelo simples motivo de que todos morrem de medo de que o mundo seja tomado por uma infestação de zumbis e que não haverá escapatória desse mal.
Pior do que cachorro louco, os zumbis são aqueles que quando infectados, ganham uma fome insaciável, desejosa de sangue, carne e miolos.
Os vampiros que são vistos como mortos-vivos, poderiam sofrer desse mal, mas eles possuem lá sua finesse, são charmosos, inteligentes e extremamente sedutores, ao contrário dos nossos amigos citados, que logo entram em decomposição, são movidos por um instinto estomacal, deixam de pensar e são ótimos para espantar todos que aparecem no caminho.
Podem falar o que quiser, mas tais monstros não me aprazem e toda vez que dou uma chance mínima para ver se algum zumbi mostra que eles não são seres patéticos, os roteiristas fazem questão de provar o quão bom é manter a rotina deles.
Muitas vezes, se nos atentarmos, a infestação de zumbis, não é bem explicada. De repente a cidade é tomada e isolada pelo exército. É um deus nos acuda, para quem ficar na área infectada e claro, como é de praxe, pessoas que nunca mexeram com armas ou sequer lutaram na vida, transformam-se em heróis e heroínas que conseguem escapar do ataque de vários zumbis. Afinal, como tais seres perdem a massa cinzenta, o ataque grupal não é organizado tal qual um enxame de abelhas, ou animais predadores que desejam realmente suas presas.
São desajeitados na maioria das vezes, tornam-se lentos, bobos, incapazes de manter as habilidades que antes possuíam.
Então na maior parte das vezes, basta pegar um carro e brincar de bate-bate. Pegar um cabo de madeira e brincar de bete. O único cuidado que se deve ter é não deixar que eles te cerquem e que te mordam. Apenas isso.
Agora se por ventura pensarem em múmias, elas possuem meu respeito, porque elas ao menos ainda mantém a inteligência e são capazes de maldições horrorosas, que por sinal são mais bonitas de se ver, do que apenas um quase passar de raiva e ignorância com uma simples mordida.
Bom... Você deve estar se perguntando por que falei tanto dos zumbis e o motivo é que li uma revista chamada XXXombies. A HQ é uma mescla de pornografia leve com zumbis. Resultado? Por que eu ainda dou chance para esses monstros degenerados? Eles não fogem da regra, é sempre a mesma coisa, não adianta! Afinal? Onde é que as pessoas acham graça nos tais dos zumbis?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Insipidez sagrada Insipidez


"Morre e transmuta-te": enquanto

Não cumpres esse destino,

És sobre a terra sombria

Qual sombrio peregrino.

(Goethe)

Lembro perfeitamente daquele odor acre que perseguia o meu pensamento enquanto subia as escadas do prédio de Helena. Todos os recursos imagináveis para impedir que o cheiro penetrasse minhas narinas eram inúteis: havia dezessete gatos vivendo no apartamento de Helena, e todos os excrementos resultantes se avolumavam pelos cantos do meu penoso trajeto. Sim, penoso, mas havia um por que, uma razão aguda para estar inserida naquela árdua batalha...

Primeiro cabe explicar quem é Helena. Garota sem sal ou açúcar, que passa pela sua vida sem ser percebida. A não ser que você a conheça por acaso e descubra a ninhada que tem em casa - Isso interessa, muito. Depois que descobri isso, me aproximei dela até conseguir sua confiança. Quanto ao dia que recordo, foi a primeira vez que ela me convidou para tomar chá em sua casa. Aceitei, é claro. E subindo as escadas, hesitei pensando se valia mesmo a pena.

Logo cheguei fronte à placa metálica 402. No tapete puído “Welcome” havia pequenas montanhas de fezes. Suspirei, olhei para o alto e toquei a campainha. Helena abriu logo a porta, com seu sorriso onipresente cujo aroma era um misto de felicidade e menta. Incrível como nunca a tinha visto triste em seis anos convivendo na mesma sala de aula. Bem, ela podia ser jovem, mas não era tola, por isso, ainda me pergunto se oferecer-me um chá não fora uma maneira de descobrir o que se passava comigo.

Helena me convidou para entrar, desviei do tapete e entrei na sala. Os móveis eram muito velhos e deteriorados e gatos pareciam saltar de todos os cantos cercando o ambiente com aqueles olhares amarelos, ameaçadores. De alguma forma eles queriam me informar de que “sabiam”. Tentando disfarçar a minha perturbação, segui a garota sem olhar para os animais. Chegamos à cozinha, pequena e sem ventilação. Ela pegou os biscoitos e colocou sobre a mesinha, encheu o bule de água e pôs sobre o fogão. “Sente-se” ela sugeriu, sendo que eu – tamanho o nervosismo - fiquei de pé, os olhos arregalados e a garganta seca. Sorri pra ela, sentei e fiquei olhando o modo como ela fazia chá.

Depois disso, sucederam-se momentos de conversa em que ela fazia perguntas frívolas e eu simplesmente respondia, tentando lidar com aquele mal estar. Daí os gatos entraram sorrateiramente pela porta atrás de mim. Eram exatamente três. Cada um roçava nas minhas pernas, de modo que senti meus músculos se contraírem num só impulso. Não, eu não podia gritar; no máximo, podia fazer careta enquanto Helena estava de costas. Quando ela percebeu o que se passava, levou os gatos para a sala. Pra mim foi até pior ter que ficar só naquele cubículo assustador, sabendo previamente que algum naqueles monstrengos apareceria para atormentar-me cedo ou tarde. “Vamos, pense na sua força, abra a sua mochila e pegue o instrumento.” Ordenei-me. O gato sabia de tudo e reagiu com tranqüilidade até o instante em que apontei o martelo pra ele. Daí a reação foi assombrosa! Com os pêlos arrepiados o bicho se elevou: o rabo grosso os olhos de pura fenda. Gelei, meus ossos eram estruturas de gelo, meu sangue era sólido, meu rosto era, apenas, meus olhos.

O felino odioso saltou em minha direção prestes a ferir-me com suas unhas iradas. Não pensei duas vezes e fiz um longo movimento de arquear o corpo para o lado direito, impulsionando a ferramenta e levando a ponta de encontro à cabeça do gatuno. “Bastet [1]não me veja!”. Aquela maça de carne voou na parede de azulejos coloniais e fez um traço vermelho até cair no chão. Houve um miado final, grotesco e ronronante como o som de um balão esvaziado.

Alívio. Fiquei ali sentindo minha respiração ofegante, admirando a minha vitória, o merecido prêmio... Quando caí em mim, percebi que algo faltava: “Onde estava Helena? Tentei sondar o que ocorria no ambiente e escutei um lamento próximo. Este choro de alguém, no quarto ao lado, era róseo, e cheirava a açúcar. Achei melhor não me envolver e esperar a guria aparecer. Seria deveras mal educado sair sem se despedir.

Limpei a parede, recolhi aquela coisa peluda sangrenta e joguei numa sacola plástica dentro da mochila. Passado todo o terror, pensei friamente que os dezesseis gatos sabiam que não era para tentar combate.

Enchi mais uma xícara de chá de camomila e esperei tranquilamente o retorno da minha amiga, sabendo que essa noite, certamente, mamãe jantaria.


[1] Deusa egípcia antropozoomórfica com cabeça de gato e corpo de mulher, símbolo do amor e da procriação.

Brumas Negras

Um mundo que gera tanto fascínio quanto temor.